segunda-feira, 25 de junho de 2007

UMA GERAÇÃO PEDE PASSAGEM



“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar.
E eu não vou me resignar nunca.”


Darcy Ribeiro

O Brasil é um país de contrastes visíveis. Somos um país rico com um povo majoritariamente pobre. Essa realidade nos deixa submissos às grandes potências mundiais e suas corporações multinacionais e cada vez mais distantes do desenvolvimento que atenda à maioria.

Cabe a juventude o desafio de reverter este quadro, inverter esta lógica e passar dos sonhos à realidade, da teoria à prática, das utopias às conquistas. Afinal, com um povo escravo e submisso nós jamais seremos uma nação livre e soberana.

Somos mais da metade da população de um Brasil ainda muito jovem, buscando sobreviver em meio às inúmeras crises, das quais somos sempre os mais atingidos. Mas seguimos em frente, sem perder nossa alegria e entusiasmo.

Recebemos uma educação que não liberta, cada vez mais superficial e sem nenhuma relação com nosso cotidiano. Nossos professores, por mais que se esforcem, não são valorizados, os salários baixos, a falta de incentivos e investimentos dão conta que a educação não é prioridade para os mais diversos governos, nos mais distintos níveis.

Alguns apontam como alternativa educacional os cartéis das escolas particulares e muitos de nossos pais acabam por enxergar aí uma tábua de salvação para uma geração entregue cada vez mais ao próprio destino. Com isso, as escolas públicas vão se transformando em verdadeiros castelos mal assombrados, com fantasmas de todo tipo: precárias estruturas físicas, falta de material didático e de apoio, falta de professores, falta de merenda.

O ensino superior é tão distante que apenas 11% dos jovens do nosso país conseguem entrar em uma universidade e quando chegam, muitos não terminam. E terminando, não conseguem emprego.

Os classificados dos jornais são uma das principais leituras da juventude, uma vez que, com o desemprego entre os jovens apresentando índices alarmantes, chegando, por exemplo, a alcançar 72% em regiões como a metropolitana do Recife. Formamos um exército de desempregados, justamente na fase da vida em que mais temos energia e capacidade de produção.

Quando conseguimos romper este emaranhado de desafios, os salários são indignos, direitos trabalhistas inexistem e a carga horária nos impede de continuar os estudos. Somos submetidos a todo tipo de exploração e desvios de função. Não há políticas públicas de trabalho, emprego e renda para juventude.

A maioria esmagadora dos jovens não tem acesso ao caro mundo da cultura. Apenas uma pequena elite juvenil de nossa sociedade tem acesso aos raros espaços para prática, desenvolvimento e produção de cultura. Mas a juventude resiste. Descobre e abre brechas no sistema, apresenta e faz sua própria contracultura: movimento hip-hop, funk, samba, teatro, cinema, capoeira, poesia e as mais variadas manifestações populares. As políticas públicas nessa área inexistem ou são tímidas e precárias, favorecendo projetos pontuais que não contribuem para superar essa realidade.

Na comunicação, a maior parte das rádios reproduzem o lixo nacional e internacional, majoritariamente estadunidense, de uma cultura descartável e alienante com péssima qualidade e sem conteúdo cultural. Os canais de TV não cumprem seu papel estabelecido pela Constituição Federal de educar, trazendo em suas grades de programação um mundo distante da realidade da grande massa. Através de novelas e programas de auditório, em que os negros são discriminados e o povo é chamado apenas para bater palmas, criam um mundo alienado onde tudo é possível. As TVs e Rádios Comunitárias, além de poucas, enfrentam a burocracia e, em muitas situações, são fechadas pela truculência e repressão dos governos. Sempre por pressão dos grandes canais e do coronelismo dos grandes meios de comunicação privados.

Até mesmo em discussões recentes, como a que resultou na escolha do modelo de TV digital a ser implantado no Brasil reproduziu-se, mais uma vez, acordos que privilegiaram os interesses internacionais em detrimento da tecnologia nacional. Mais uma vez, a função social da comunicação de massa foi reduzida a um negócio.

Se, nas cidades as dificuldades da juventude são grandes, no campo são ainda maiores. A falta de condições e subsídios para a manutenção das pequenas propriedades, a ausência de educação e de tecnologia, expulsam os jovens cada vez mais cedo para os grandes centros. Famílias inteiras abandonam anos de trabalho, vendendo suas poucas terras aos grandes latifundiários/gafanhotos rurais ou as entregando aos bancos para pagarem dívidas de juros impagáveis. O que aumenta cada vez mais os bolsões de miséria que cercam as grandes e médias cidades.

A violência já não é só um problema das grandes cidades. Também está presente nos pequenos municípios. Os mais ricos, sentindo-se acuados aprisionam-se em “castelos”, cercando-se de um aparato monstruoso de segurança privada. Crianças e adolescentes são seduzidos e recrutados pelos cartéis das drogas e da exploração sexual. Este é o resultado da falta de um desenvolvimento voltado para as maiorias, capaz de distribuir riqueza e impedir que nossas crianças e jovens tenham de optar pelo crime para “sobreviverem” um pouco mais.

A justiça é lenta e criteriosa, punindo os mais fracos e deixando os poderosos - sonegadores, mensaleiros, sanguessugas e todos aqueles que podem pagar um ótimo advogado - andarem livres para continuar cometendo seus crimes.

A polícia que deveria proteger a sociedade cumpre o papel de “capitães do mato” das elites, levando o medo e a morte para os bairros populares e favelas. A juventude negra e pobre é chacinada cotidianamente, a ponto de “aleijar” a pirâmide etária de nosso país. Nem mesmo os bons policiais estão salvos por usarem farda, muitas vezes eles e suas famílias são vítimas de colegas corruptos. Desse caldeirão resulta um fenômeno novo e explosivo: as chamadas milícias, verdadeiros exércitos paralelos que promovem a barbárie ameaçando, coagindo e achacando a população que ousa não pagar por proteção ou atender a seus interesses.

As políticas públicas de juventude para as áreas de saúde são pontuais e ineficientes, são milhares os jovens contaminados pelo HIV, por exemplo. No que diz respeito a habitação - são multidões que vivem nas praças, calçadas e viadutos, para o esporte - somos um mar de jovens, pés descalços que jogam e correm em ruas esburacadas sem clubes populares, nem centros de esporte. Quando o investimento chega aos atletas eles respondem de forma brilhante, nossa principal ginasta, Dayane dos Santos, por exemplo, foi descoberta em um Ciep - Centros Integrados de Educação Pública, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
A Amazônia está virando carvão e plantação de soja. Os grandes laboratórios já patentearam milhares de plantas e animais. Restam menos de 5% da Mata Atlântica e a destruição da fauna do Pantanal avança a níveis alarmantes.

A poluição é responsável cada vez mais pelas principais doenças respiratórias. Tudo por que não existem políticas publicas de transporte que questionem o modelo automotivo imposto pelas grandes montadoras. Nossa água está sendo entregue às empresas estrangeiras. Nossas riquezas minerais foram entregues de graça às grandes corporações internacionais, vide a privatização da Vale do Rio Doce.

Essa realidade nos impõe uma série de desafios. Muitos dizem que o futuro pertence à juventude mas, em muitos momentos, quando somos chamados a enfrentar esses desafios – seja nas esferas profissionais seja nas políticas - somos excluídos por sermos considerados imaturos, impulsivos e até, segundo alguns, por sermos excessivamente rebeldes, como se estas justificativas nos impedissem de ocupar determinados espaços de visibilidade e responsabilidade.

Apesar desses percalços nos apresentamos cada vez mais e com mais vigor, como alternativa ao ciclo de lideranças que hoje dominam a realidade brasileira na política ou nos mais diversos segmentos da nossa sociedade.

A juventude já demonstrou historicamente ter capacidade para ser protagonista e vanguarda do processo de mudanças que nosso país necessita. Esse papel sempre soubemos cumprir nos mais diversos momentos da história de nosso povo: na luta pela abolição dos escravos, na campanha “o petróleo é nosso”, na campanha da Legalidade liderada por Leonel Brizola, na luta contra a ditadura militar e pela anistia, nas “Diretas Já!” e em um período mais recente no movimento pelo impedimento de Collor. Também tivemos papel importante na cultura brasileira com nos grêmios culturais e nos festivais durante a ditadura militar, cada um em seu tempo, a juventude brasileira sempre estive presente nas principais mudanças do nosso Brasil.

E aqui estamos mais uma vez, prontos para lutar e sonhar, nas escolas, universidades, na tranqüilidade das cidades do interior ou nas grandes e agitadas metrópoles, nos mais longínquos campos ou nas periferias, no comércio informal ou nas fábricas da nossa pátria. Estamos onde sempre estivemos, fabricando mais um pouco de tinta para pintarmos, com nossas cores, mais um capitulo da história brasileira.

Um comentário:

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